sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Quem nós educamos e como os educamos?

Os espaços não formais também ensinam, lembro que quando criança – em minha segunda infância – a rua me ensino muito, nos relacionamento com meus amigos, no jogo de bola, nas brincadeiras de pique. Tive que aprender a conviver, a negociar, a me comunicar de maneira eficiente e clara. É interessante também observar os espaços sociais que uma criança de classe média freqüentava nos anos 80: clubes, cinemas, idas aos shoppings, reuniões com familiares em festas, algumas viagens ao interior de São Paulo, assim, tive algum acesso à cultura letrada, tecnologia e ainda ao patrimônio constituído de nossa sociedade.

Os espaços públicos formais – e me atrevo a chamar a escola de um espaço público formal – não eram os destacados da elite econômica e social, mas não se constituíam em lugares destinados a classes não abastadas. Freqüentei uma escola particular, fiz natação, tive a oportunidade de ter professores particulares quando em dificuldade em português e curso de inglês, ainda a minha disposição o tempo e recursos para então fazer duas graduações quando jovem e adulto.

Claro que o apoio e estabilidade emocional e financeira de meus pais contribuíram e influenciaram em minhas decisões e na relação com a escola e os diversos docentes. Posso com certa tranqüilidade dizer que apesar de agitado não fui uma criança problema. Agora, o que é um aluno ruim? Ou melhor, quais são as variáveis que determinam ou influenciam o desempenho escolar de um jovem ou uma criança?

Quando alguns colegas apelam para a “antiga escola”, de cadeiras enfileiradas e alunos calados, quando pais e sociedade exigem métodos de alfabetização que se remetem as escolas “bancárias”, penso com temor, que os pedagogos mais uma vez precisam se manifestar coerentemente. Pois educar não é como uma cirurgia que se faz uma única vez, nem mesmo pode ser algo repetitivo e sem significado para o educando. Educar é constante pensar, planejar, agir e avaliar. O professor é em essência um planejador, ele deve observar a realidade a sua volta, rememorar sua experiência, contar com os colegas para discutir casos e estar sempre lastreado em uma boa base teórica.

De fato, quando olhamos uma criança em dificuldade e normalmente esquecemos o contexto e a história daquele aluno, esquecemos que ele pode vir a escola faminto, ou que pode ter acordado muito cedo, pois, precisava pegar vários ônibus para chegar a escola, ou ainda, que sua casa não dispunha de um espaço para os estudos adequado, e pior, que essa criança teve que arduamente trabalhar para ajudar no sustento da casa. Esquecemos que os pais às vezes não tinham condições para ajudar os filhos nas tarefas do lar, ou que ainda, essa criança não participou / participa da construção social do conhecimento e nunca foi a um cinema, teatro, bosque ou ao zoológico. Mesmo assim ainda insistimos em não considerar o contexto, e mais, insistimos em desprezar os problemas e situações levantadas pelos alunos em prol do currículo, do tempo de aula, da duração e finalização do livro didático.

Sinceramente gostaria que o “Pedrinho” me visse como alguém realmente interessado no seu desenvolvimento pleno e que ele pudesse contar seus problemas para que então, eu formasse temas significativos de aulas, não somente para ele, mas para a sala toda... Sem esquecer do direito a cultura, lazer, educação e acesso ao patrimônio cultural humano... Logo ele não é um problema, mas um desafio que com ciência, arte, material didático e disciplina superaremos conjuntamente: o aluno e eu (professor)...

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