segunda-feira, 27 de julho de 2009

A mediação e o coordenador

O problema da função do coordenador pedagógico, no que tange a mediação dos conhecimentos para a formação continuada dos profissionais da educação na escola, bem como, o atendimento a pais e alunos, e ainda, na contribuição positiva para o estabelecimento e fortalecimento de uma escola realmente inclusiva e democrática, perpassa para nós uma questão até então anterior à função (ou cargo), mas sim, filosófica por assim dizer.
Sem pesarmos em termos de Hegel, a dialética é um jogo de teses, antíteses e sínteses para se alcançar à conformidade com o “espírito absoluto” e uma vez os homens conformados (moldados) com a vontade desse espírito chegaríamos na razão do tempo histórico, assim, existe uma verdade a ser descoberta e alcançada que (ao nosso ver) para Hegel independe da realidade. Em paralelo, o coordenador escolar, tem uma experiência, acesso as normativas institucionais das secretarias de educação e poder para mover o corpo escolar para uma determinada direção e meta, e poderia assumir uma postura Hegeliana tentando conformar o todo escolar, sem observar a realidade, a uma regra uma normativa ou posturas teóricas.
Por outro lado, os jogos de forças da realidade falam aos sujeitos, e rebeliões brancas sempre ocorrem, a desobediência ou “releitura” das regras, de modo a favorecer determinado grupo, crença ou análise não estão ausentes na escola. Uma leitura que parte da realidade e a partir dela propõe uma discussão, um consenso e um diálogo com as normas, leis e contribuições teóricas também estão na perspectivas de atuação do coordenador. Nesse sentido, uma ação, uma prática, que lembra muito a análise Marxista ou (até mesmo) Aristotélica, no sentido que observamos o Ato (a realidade ou atualidade) e a partir daí nosso curso de ações e respostas. Assim, observamos a realidade, sentimos os problemas que afligem aquele grupo em questão e somente depois apontamos um direcionamento, um curso de ação, lastreado em reflexão, leitura e consensos.
O coordenador tem então um desafio quanto a origem de sua função, de mediar os conhecimentos aos colegas professores, de atender os pais e alunos, no sentido de estabelecer uma gestão democrática e participativa, visando a inclusão de diversos grupos, sem, ser determinista (ou impositivo) e ao mesmo tempo sem desrespeitar as normas, leis e lastro teóricos de suas ações. Ele (coordenador) não pode impor ao coletivo escolar uma visão, mas não pode deixar de ter uma visão sobre esse coletivo, deve propor a avaliação e reflexão constante de todos os participantes da escola, mas não pode impor sua interpretação dos fatos, deve sugerir leituras e questionamentos, contudo ter o cuidado para deixar emergir do conjunto dos participantes suas preocupações, demandas e usar esse material como norte para pesquisa, formação e planejamento.
Assim, propor um curso de formação para participantes dos colegiados da escola (conselho, grêmio e associação de pais) e uma série de reunião com professores para trabalho pedagógico coletivo, pertence a parte da função provocativa e fomentadora do coordenador, que chama para a reflexão, para a leitura, para o debate e diálogo os mais diversos atores da escola. Contudo, o resultado não pode ser pré-determinado, pois é com o debate (após o debate) que muitas ações serão tomadas, que se planejará o trabalho com os conteúdos, a solvência de problemas do cotidiano escolar e até mesmo se levantará temas como violência, disciplina, problemas de participação, verbas, didáticos e demais.
Tais questões perpassam não somente a atitude e perfil do indivíduo que ocupa a coordenação, mas também, seus conhecimentos e projeções do homem na sociedade e no mundo, suas concepções filosóficas do indivíduo, suas crenças quanto ao jogo democrático e das leis, seus lastros teóricos e sua capacidade de síntese e liderança. Como também o ambiente que ele está inserido, sob quais limites ele trabalha e como poderá ocupar um espaço na escola para atuar. Como notamos, a formação docente e a experiência docente se completam com a experiência de vida e a trajetória que se fez para chegar até a coordenação.
Enfim, como propor sem impor? Como atuar sem determinar? Esse é um desafio constante a esta função e para o indivíduo que a ocupa.