terça-feira, 2 de setembro de 2008

Reflexão Pessoal sobre o Liberalismo Liberdade e Cultura 25/05/08.

Dewey ao reconhecer os diversos tipos de liberalismos que perpassam a história, faz adequar e vincular o conceito clássico de liberalismo para a sua filosofia.
Assim, elege que a grande força transformadora da sociedade com a finalidade de gerar o maior número de benefícios ao maior número de pessoas – conceito de Bertham – é um axioma liberal. Atrelado, claro, à liberdade e potencial do sujeito, que age, atua e cria suas oportunidades frente aos desafios da existência. Antes de qualquer coisa, este tipo de liberalismo é político, trata-se da liberdade do homem na sociedade em que vive, da igualdade de direitos e que tais leis e oportunidades existam de fato a todos. Portanto, ser liberal é oportunizar realmente a todos os benefícios coletivamente construídos.
A distinção e defesa de Dewey se dão numa época pautada por duas correntes desumanizadoras: o fascismo e o socialismo soviético, o livro Liberdade, liberalismo e cultura: é escrito em um período que as tentativas de uma sociedade totalitária e seus sucessos econômicos hipnotizaram o mundo pelo pacto: perda de liberdade individual versus segurança e bem-estar material.
O que é a proposta Deweyana (se é que existe)? É o método da inteligência, da comunicação dos resultados para a sociedade e a capacidade de ler os diferentes aspectos da produção humana em beneficio do homem com uma clara escolha pela não violência. A não recorrência da violência como opção se faz pelo reconhecimento da evolução humana, da sociedade e da ciência.
Tais proposições não são, nem constituem, numa forma de iluminismo que crê na razão e na capacidade de domínio das forças da natureza, na quantificação matemática do mundo, em leis naturais que migram para a realidade social. É antes de tudo, o reconhecimento que a filosofia e a educação ensinam os homens a responderem adequadamente a problemas, independentemente de sua origem, natural ou social. O reconhecimento que um problema tem diversos lados e pode ser solucionado sob diversos prismas, que a revolução violenta em sua tentativa de solver as dificuldades, submete povos, culturas e nações, já os outros modos de solução: através do diálogo por uma via democrática, respeitando a boa demonstração, o outro como interlocutor de idéias e conceitos distintos ao do orador, e as necessidades da maioria, molda-se como a opção moralmente correta, que reconhece verdadeiramente o caminhar da humanidade pela história.
Como geralmente as revoluções, caem para as ações violentas remetendo-se e fazendo uso de brutalidades e desenvolvimentismos tecnológicos desumanizados, nos quais, as metas e objetivos são vinculados com uma razão absoluta com status de verdade, e por que não dizer, metafísica (ditadura de um grupo sobre o outro). A máxima que o desenvolvimento e a ciência neutra pode gerar bem-estar é a grande objeção, ao meu ver, de Dewey. Não podemos deixar de pensar em solucionar os problemas humanos no campo da política e da ação pública (república), para tanto falar bem, dizer bem, pensar bem, usando os elementos da razão e da ciência, mas sempre vinculados à cultura, aos povos, ao mito. Enfim, o reencontro com o fantástico. (Impressão pessoal)
Como pensamos, em uma solução para as questões sociais de maneira não violenta, que serve antes de tudo as pessoas, respeitando as liberdades individuais, garante os direitos iguais e realizados de fato – optamos pelo diálogo democrático, por formas de representações não repressoras, e assim, um tipo político liberal, sobretudo progressista, verdadeiramente revolucionário, pois projeta a humanidade ao futuro a prepara para os desafios novos, criativos. Não determina o tipo de sociedade ou classe, não privilegia um grupo, nem dá a história um caráter determinado quanto à trajetória. Prepara-se, por meio da educação, um sujeito para viver em sociedade (na democracia), para o diálogo capaz de compreender e interpretar o mundo a sua volta e propor ativamente a este arredor. Os papeis do Estado são limitados a garantir esta estabilidade de direitos e oportunidades, que para tanto, utiliza-se das ciências sociais e da economia para a melhor administração dos recursos. Em Dewey, o liberalismo não versa sobre exploração de classes ou questões econômicas diretas, esse conjunto de conceitos deve, como aludido acima, garantir que o potencial humano se manifeste, e pelo que compreendo, esta é uma questão política.
Como ficaria o senso histórico dos primeiros defensores do liberalismo? Lembremos que a história se remetia a tradição, e a ruptura, era o propósito dos primeiros liberais. Eles desejam o fim dos privilégios, e o direito lastreado nas relações de servidão, com isto o fim de um Estado opressor que não dava voz a todos os cidadãos. Considerar a história era (ou poderia ser), portanto, naquele momento, aceitar a servidão “feudal” justamente, além de não olhar para a revolução tecnológica, comercial e política que se formava diante dos olhos.
Igualdade significava deixar em paz uma grande massa que poderia caminhar livremente em busca de oportunidades, que poderia comercializar o seu trabalho, esforço e conhecimento, para o beneficio dos seus e próprio; significava ter um representante que tem seu ponto de partida o povo, seus iguais. Ser liberal significava ser progressista, vinculado com a modernidade em seu tempo. Liberdade política que por conseqüência libertaria forças econômicas. A questão é que não podemos olhar unicamente para a liberdade deste período que respondia a uma demanda especifica e lutava contra uma monarquia, realeza, privilégios e abusos por parte do Estado e considerar que o liberalismo forjou-se somente assim.
Devemos considerar que o outro papel do Estado é garantir a oportunidade a todos, e isto, se mostra atrelado com políticas públicas, para emprego, sistemas educacionais, obras públicas de moradia, esgoto, iluminação, sistemas de previdência e saúde. Os primeiros liberais foram superados por uma nova onda liberal que não via a conformidade entre a liberdade e as condições sociais, entre o discurso do esforço individual, liberdade e as reais oportunidades sociais. Tal mal-estar (social e econômico) chegou a seu ápice na crise de 1929, quando da quebra da bolsa de Nova Iorque. A proposta liberal para adequar oportunidades, leis, direitos e bem-estar encontra-se nas políticas do New Deal e em seu embasamento teórico por Keynes (A teoria geral do emprego, do juro e da moeda - 1936).
O ponto fundamental do liberalismo não se alterou, garantir o maior beneficio ao maior numero de pessoas, garantindo a liberdade e os direitos individuais. Logo a democracia social. Sendo como em sua origem propositivo na busca de novos modos de organização e arranjos pessoais e sociais. Projetando a sociedade para além de suas condições do presente, demandando a formação do novo homem, uma nova música, um novo cuidado – consigo mesmo – e com a sociedade que vive ativamente.
Podemos vincular, portanto, o liberalismo com um certo inconformismo que busca romper com as políticas e distribuições até então utilizadas, é como um passo para o imaginário, adiante dos limites da ciência e da sociedade, que busca constantemente a evolução dos indivíduos e a força na capacidade do sujeito em direcionar as constantes mudanças que o cercam, quando não as determina.