quarta-feira, 6 de maio de 2009

Reflexão livre: palestra XXXX sobre deficiência e relações com a leitura de Kerouac.


De certa forma Aristóteles me dá a sobriedade que preciso para viver e compreender o mundo sensível, a política, os homens e a falar com lógica meus discursos, mesmo que mentais ou verbais apenas. Em antíteses a esse processo, mas não menos iluminado e brilhante, Kerouac traz a loucura, a escrita rápida, quase sem fôlego de alguém que não crê, e ainda assim, vê a realidade (e a entende) suficientemente para registrá-la. Sonhos, delírios, geração perdida?
O que resta, então, é uma mistura e um pingo de crença que a metafísica existe, que ainda podemos voar, por mares de vinho e quem sabe dançar ao som de tango comemorando o surgimento do Baco pós-moderno.
Poderíamos também levantar um assunto a muito morto (pelo menos para mim); a questão da ciência e da prova: o que seria evidência? o que é então pensamento legítimo que deve quando transmitido refletir uma verdade provável? Prefiro, os sofistas pela beleza, prefiro os detetives como Holmes, pois ao observarem um sinal percebiam as conexões dos temas de maneira transversal, não se limitando a um campo de batalha, de luta e explicação. Os assassinos e suas histórias poderiam sim ensinar ao cientista em como solver um problema, portanto.
Deste modo, me deparo com uma questão, ou várias, se há um limite, a humanidade sempre se colocou a produzir para superá-los? Vamos relembrar quando vimos o mar intransponível e a aventura humana que se constituiu nas grandes navegações, devemos também (somente para ficar em dois exemplos) da censura das ditaduras e o avanço (que geralmente) ocorriam nas artes e na política como representação da luta democrática.
Concluo, então, que as deficiências são limitações, e que as limitações colocaram o engenho humano para a produção, com sua conseqüente superação. Resta uma pergunta. Pode o deficiente produzir? Respondo que sim, se colocado a frente de sua limitação e estimulado, ele (ou ela) por ser do gênero do homem e estar imbuindo de alma (aqui me remetendo aos gregos) produzirá cultura, arte, ciência, valor (tanto ético quanto econômico e político).
São os sonhos descritos no livro de Kerouac (no O livro dos sonhos) somente delírios? Também respondo, e digo não, são representações do real, mas colocam outras possibilidades descritivas, de narrativas e enfim, de lógica. Ultrapassando o limite imposto do real e produzindo, neste caso, arte.
São os dilemas metafísicos, barreiras para o desenvolvimento, se considerarmos certas ideologias? Sim, e por causa justamente de serem barreiras, constituem-se em estímulos para a criação, para imaginação, convergência.
Logo, o custo econômico que justificaria a não atenção aos limites do indivíduo, de fato, impõem um controle cruel e frio, que rebaixa o sujeito a carne, órgãos e estímulos sem coesão. E isto, carne, somos todos e justificaria se aplicar tal controle a toda sociedade, já que de certo modo somos todos limitados? Estaríamos uniformizados em uma das piores amarras, a mental. Não sonharíamos e, portanto, não ultrapassaríamos os mares, nem lutaríamos contra ditaduras, não comporíamos o mosaico criativo que é o essencial humano.


Fábio
23/04/09

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